segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Cabo de la Vela, Departamento de La Guajira, Colômbia



Desde Riohacha, capital do departamento, toma-se um táxi até Uribia, coisa de uma hora de viagem. Em Uribia, é possível aboletar-se em uma das muitas caminhonetes que fazem o serviço de abastecimento da comunidade. Mantimentos, crianças remelentas, uma estrada sem pavimentação e poeira, muita poeira do deserto. Assim se viaja até Cabo de la Vela. Aqui na caminhonete somos todos Wayúu. De cores e de sol. Mais duas horas e chegamos, finalmente. O povoado: uma rua extensa, de um lado as casas, do outro o mar. Nunca choveu por ali, é o que diz o chão.

(continua)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Depois do gozo

Casal entrelaçado após o orgasmo. Ele ainda dentro dela:
- Tenho tido muita pressão. Muita preocupação na cabeça; muito trabalho, contas pra pagar, mulher enchendo o saco, filho pequeno... muita coisa. Às vezes parece até que eu vou sufocar.
A mulher lhe beija o rosto suavemente.
E ele:
- Você me dá vontade de respirar.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Creare (ou o homem que reescreveu a bíblia)

Isso já aconteceu. Foi daqui a alguns milhares de anos. O homem sentou-se à frente de uma máquina que nos remeteria a um computador como os de hoje (muitíssimo mais evoluída, é claro) e pôs-se a redigir. Começou pelo fim, o Apocalipse. Mas parou. E como o mundo já tinha acabado, logo suprimiu este livro. Há quem dirá que neste momento pensou em desistir da empreitada. O fato é que a partir daí engrenou numa ininterrupta rotina de 100 dias e 100 noites (que naquela época equivaleriam a umas 50 semanas atuais), incessantemente debruçado sobre o que seria sua obra. A obra. O homem não levou nada à boca neste período, tampouco piscou os olhos ou sentiu cansaço. Só redigiu e redigiu. Isso já aconteceu. Foi daqui a alguns milhares de anos. O homem sentou-se à frente de uma parede que nos remeteria a uma caverna como as de hoje (muitíssimo parecida, é claro) e pôs-se a pintar. Começou pelo início, o Gênesis. Mas parou. E como o mundo não tinha começado, desfez o que já tinha sido pintado. Há quem diga que neste momento pensou em desistir da empreitada. O fato é que a partir daí engrenou numa ininterrupta rotina de 100 dias e 100 noites (que naquela época equivaleriam a uns 100 dias e 100 noites atuais), incessantemente debruçado sobre o que seria sua obra. A obra. O homem não levou nada à boca neste período, tampouco piscou os olhos ou sentiu cansaço. Só pintou e pintou. Isso ainda vai acontecer. Foi há alguns milhares de anos. O resto é a máquina indomada e a parede crua. E o entre.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Oftamologia

Z. - Que coisa maravilhosa que é enxergar! Poder através da percepção da luz definir formas, cores, texturas, profundidade... O sistema óptico é uma coisa elaboradíssima, uma verdadeira dádiva... No olho, por exemplo, a pupila, se contrai e se dilata de acordo com a luminosidade, conforme a necessidade. Funciona como uma espécie de filtro de luz. Aliás, sabia que pupilla em latim significa menina? A famosa menina dos olhos... Atrás dela está o cristalino que é a lente do olho, o que faz o foco propriamente falando. Depois, a retina é responsável pela formação da imagem, dando sentido à visão. Ela retém as imagens que passaram pelas outras partes do olho e faz uma espécie de tradução, como se fosse uma montagem, agrupando tudo... Lá na retina existem dois tipos de célula: os cones e os bastonetes, um percebe a luz e o outro as cores. As células chamadas cones percebem as cores, e quando existe alguma deficiência nessas células, ocorre o daltonismo. Essa anomalia não permite o reconhecimento de uma das três cores primárias: vermelho, verde e azul, que misturadas dão todas as outras cores. Não é verdade que o daltônico só vê o mundo em preto e branco, existem vários tipos da doença, sendo que esse tipo de daltonismo é um dos mais raros. Depois da retina, o nervo óptico recebe as informações que foram ordenadas ali e as manda para o cérebro. O processo é bem complexo se a gente considerar que enxerga tudo de forma imediata, automaticamente, às vezes, sem nem perceber.
Existe até um ramo da física dedicado ao estudo à visão: a óptica. Explica a reflexão, a refração... Sabia que a luz é uma onda eletromagnética? O reflexo nos espelhos, por exemplo, se dá por conta disso, a onda bate e volta. Então, num espelho plano a imagem não se distorce porque a onda...

Enquanto Z falava, passou uma morena curvilínea num vestido modelador, e a reação de A não foi menos do que acompanhar todo o seu caminhar com os olhos.

A. - Viu a morena que passou?
Z. - Ahn...? Não, nem vi.
A. - Cara, que gata!
Z. - ...
A. - Sobre o que você estava falando mesmo?

domingo, 24 de maio de 2009

Vira-latas

Doze anos e estava apaixonado pela menina que sentava à sua frente na sala de aula. Certo dia, após as aulas, esperavam juntos na frente da escola a chegada dos respectivos pais. Então, passeando pela calçada se aproxima um vira-lata, num estado de natural mal trato. O doze anos pensa em chamar a atenção da mocinha para a sua sensibilidade e afetividade com os animais: faz um carinho na fronte do cão que abana o rabo agradecido. A reação da menina é imediata: “ECA!!!” diz, repetindo no rosto a expressão de nojo. E o afetuoso, que nem era tão fanático assim por animais de estimação, pensa consigo: “vira-lata do caralho!”

quarta-feira, 13 de maio de 2009

E o dourado de seus corpos, de Paul Gauguin


Et l'or de leurs corps, 1901
Óleo sobre tela, 67 x 76cm
Paris, Musée D'Orsay

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Tony

Se fosse hoje, ele teria fugido. Nadado de costas. Ignorado qualquer apelo desesperado da superfície.

“Você devia saber, porra. Eu fico puto com isso. Nunca te deixei na mão, sempre fiz tudo por você e você ainda duvida de me pedir isso? Você devia ter me ligado na hora!”

Aberto mão de sua honra vaidosa, camuflada na água do romantismo, inutilmente usada como uma carapaça escamosa de segurança para seus atos.

“Caguei se ninguém ia fazer isso! Eu faço, sempre fiz. Nunca me importei com a opinião dos outros para nada. Não ligo, porra! Se eu quiser parar tudo, largar tudo e sacrificar minha vida por você, eu faço, merda!”

Mesmo sendo um jacaré menor que os outros, Tony achava que seu coração era maior.

“É amor mesmo, caralho. Amor! Eu amo! Foda-se! Tomar no cu todo mundo, porra! Faço e foda-se! Morro! E não tem nenhuma condição não. Eu não ligo pro que você fez! Esse amor é meu e eu dou! Dou minha vida, meu coração, tudo que eu tenho e caguei!”

Somente muito tempo depois, descobriu que era só mais um babaca verde com papo amarelo no mundo.

“Estou indo para aí agora, calma! Não fica assim, vai dar tudo certo. Eu dou um jeito, pode deixar. Sou eu, cara, o Tony. Claro que perdôo que besteira. Vai ficar tudo bem. Calma e agüenta até eu chegar aí. Eu te amo, é só isso o que importa. O resto a gente resolve fácil, você vai ver.”

Tony seria um merda de primeira. Ainda bem que o urubu comeu seu ovo antes de ele nascer.

“Eu te amo, porra... piranha.”

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cabo

É a história que aconteceu do beijo morte que se viu passou depois durou a vida enquanto existiu que houve para quem não compreendeu nem nunca esqueceu.

Ele, longo rabo reluzente, veio da água.
Ela, espinhos afiados, da terra molhada.
Ele, cabeça de barracuda, andou pelo mar com a água nos joelhos.
Era grande e o mar baixo.
Ela, mãos de garras, saiu da poça de areia molhada da imensidão.
Era grande e a paisagem infinita.
Seus caminhos duraram três semanas, contados desde que foram visto pela primeira índia.
Apareceram do nada. Nada mar e nada terra molhada.
Ao fim das três semanas pararam.
Ele, escamas lisas azuis, no beira-mar.
Ela, pele cascuda laranja, na beira da lagoa.
Pareciam não poder se desconectar de seus ambientes úmidos, ainda que se olhassem com independência do real, como se nada mais houvesse.
Estavam a menos de 150 metros de distância, e entre eles passava uma vila hesitante e alongada entre o oceanos e a lagoa.
A vila, agora, se dividia em duas, pois ninguém ousava cruzar a linha de olhares dos dois visitantes.
Os dois ficaram assim por 12 semanas. Fazendo poucos movimentos, sem nunca perder a conexão dos olhos.
A vila se adaptou à vontade implícita deles e recuperou alguma normalidade, em sua divisão. A ausência de homens facilitava isso.
No octogésimo sexto dia, a chuva caiu e eles andaram.
Ele, pênis alaranjado, levantou e começou a andar em direção a Ela, vulva azulada, que andava em sua direção.
A vila parou na chuva.
Choveu por 2 dias. Ao final da chuva, estavam a 30 metros um do outro.
O sol ardeu e secou a terra em 8 horas. Estavam a 15 metros um do outro quando não podiam mais se mover. Caíram para frente na areia seca.
Suas cabeças paralelas no solo, o olhar incessante.
Ele, dentes enormes e afiados, e Ela, boca minúscula borbulhante, se beijaram, mortos.
O suspiro final de suas bocas foi uma torrente de vento que levantou todas as índias do vilarejo do chão, e as engravidou. Até as meninas.
6 semanas depois, na próxima chuva, deram à luz a pequenos bebês gelatinosos que escalaram engatinhando os pingos de chuva até as nuvens.
E a cada nova chuva recebiam com alegria seus filhos das nuvens na vila.
Até que eles não mais vieram, suas mães morreram e nunca mais se falou sobre isso.
Apenas na chuva da memória ocasional que sempre tarda a cair.

Mompós

Cortar o cabelo e esperar. Deitar na calçada e esperar. Largar a bicicleta pra lá e esperar. Olhar as formigas trabalhando e esperar. Esperar, esperar... e perceber que não está a esperar. Ficar, estar, ser, talvez, mas não mais esperar. Olhar, admirar, perceber, observar, torrar, abstrair, sentir... As motos no lugar das bicicletas, os olhares desconfiados em vez do reconforto, calor incessante onde deveria estar a brisa suave, o barulho ao invés do silêncio... Mas paz. Paz afinal. Paz no desleixo, na insensatez, no isolamento, no descaso, na entrega, no nada... Tudo acontece, menos aqui. Aqui não há nada. Ao meu redor as formigas trabalham incessantes, as motos passam zunindo, o sol arde impiedoso... Em meu leito sujo, nada.
Em retrospectiva, percebo: eu era Mompox. A utopia de Mompox que inventei que deveria ser, ou que havia sido, e assim acreditado. A Mompox da jornada infindável, das moçoilas nas cadeiras de balanço depois da aula, do suquinho de 10 centavos da minha infância, do cumprimento afetivo da vizinha... essa mesma Mompox que se apresentava a mim, na minha cara, mas que só se realizava através da minha percepção deslocada e pretensiosa, posteriormente. Tudo naquele momento bastava. Não havia um gringo esquisito estatelado na calçada da rua paralela olhando pro nada a fumar. Havia a paz que Mompox tinha esquecido, ainda que estivesse na minha frente. Por trás das motos, do sol, dos olhares e do ruído. Na frente do caminho lúdico, das cadeiras oscilantes, do líquido nostálgico e do carinho.
Mompox é apenas aquele momento, onde eu era.
Até que, finalmente!, chegou a cerveja que eu estava a esperar. E lembrei que estava esperando. A primeira de muitas...

Ser 8

Em uma esquina, oito homens de uniforme varrem o lixo da calçada. Eles não são varredores, apenas varrem. Parecem estar varrendo há muito tempo. Há trinta mil anos, exatamente. Eles são a mesma pessoa e o lixo é varrido às vezes com facilidade e às vezes com impossibilidade, ainda que ele nunca acabe. Não há começo, recomeço ou fim, apenas varrem naquele começo de manhã até a calçada ficar limpa, há 30 mil anos, exatamente. É o mais simples a fazer, pensa um deles, como os demais.

Em uma esquina, oito troncos estão em pé sobre a calçada. Eles não são o mesmo tronco, mas faziam parte da mesma árvore. Não sabem se ainda fazem, nem se representam apenas um ser, se são oito irmãos da mesma mãe ou simplesmente troncos respingados que vão virar cadeiras exatamente iguais. Nem sabem se são cadeiras em seus casulos temporários. A dúvida os abala, cada um a seu modo.

Em uma esquina, oito cartas de amor estão presas sobre a calçada. São cartas diferentes de páginas diferentes do mesmo caderno, escritas com a mesma caneta, molhadas com o mesmo perfume e lágrimas, e escritas para a mesma pessoa. A primeira leva esperança enquanto a última anuncia morte. As cartas se consideram únicas, ainda que saibam de sua interdependência. A mancha das lágrimas na tinta da caneta as distinguem, para elas, ainda que lágrimas de amor e tristeza sejam iguais.

Em uma esquina, oito apartamentos estão perfilados um em cima do outro. Eles não são nem sequer parecidos, ainda que sua planta seja igual. Cada um tem sua personalidade fajuta e não gosta de seus vizinhos diretos. São arrogantes, velhos e acidamente sarcásticos, pois assim é o prédio onde estão. Eles não sabem disso, não têm referência de sua unidade, nem do desprezo que os molda igualmente. Alguém sabe, e espera o momento certo da anunciação. Seus moradores estão morrendo. O momento é agora.

Em uma esquina, oito animais diferentes fazem o que se espera deles. Três carnívoros caçam uma paca. Esta tenta fugir e quase pisa em uma cobrinha. Um pássaro vermelho voa sobre eles, aproveitando a corrente de ar. Um pequeno caramujo observa o pássaro enquanto se refugia do caos bestial. O vírus no chiclete se cristaliza. A mesma alma habita os oito animais, já tendo perdido a esperança na evolução cósmica depois de seu fracasso milenar.

Em uma esquina, oito pâncreas estão na calçada. Eles vieram de pessoas diferentes, mas são iguais. Eram membros, membros de um corpo humano. Acham graça disso. Fazem piada sobre formam um novo clube, o clube dos pâncreas, onde todos voltariam a ser membros. Cada um adiciona seu toque de humor à situação. Todos acham muito engraçado e riem, soltando enzimas a esmo. Ao final da grande gargalhada, suspiram com alívio a liberdade de suas obrigações vitais e o encontro de outros como eles, afinal.

Em uma esquina, oito ventos rodopiam acima da calçada. Executam uma complexa e ininterrupta dança de poeira e folhas. Dançam com passos imprevisíveis e arriscados para nunca encarar o que não sabem. A dança lhes define como movimento e não apenas ar, poeira e folhas. Dançam entre si, e não sabem o que aconteceria se parassem. Mas estão tão cansados, e são tão iguais, que consideram se unir em um só redemoinho. Nunca o farão, por vaidade.

Em uma esquina, oito esquinas sujas conversam com o escritor. Sabem que são a mesma, mas não se importam, ao discutirem o valor da metalinguagem. Discordam entre si de sua relevância na história, argumentam a pobreza do uso desse artifício no fim e não entendem o fio narrativo que une os textos do grande autor. O grande autor ressalta com indignação assoberbada que só espera que os verdadeiros e versados leitores compartilhem da grandeza de sua obra, mas ressalta que as críticas, ainda que menores, das esquinas serão usadas no derradeiro parágrafo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mompox

Em Santa Cruz de Mompox, uma cadeira balançava ao vento. Na calçada de casa, uma velha pitava cigarrilha colombiana com gosto e fazia crer que toda aquela umidade era somente mais um de seus delírios. Como o peixe barrento que vivia no rio, como o cachorro que preferia um chute a ser acolhido... Passaram-se tantas alegrias nas lembranças da velha, que se pôs a sorrir em seu balanço. Um sorriso gostoso que crescia e crescia e crescia. E só parou súbito quando percebeu três bicicletas desnudas vindo em sua direção. Não entendeu a princípio: “Como pode isso, meu deus?” Fechou os olhos, abriu-os depois com um suspiro e um alívio; já não mais estavam ali aquelas que julgou como coisa assombrada. Deu outra pitada, dessa vez mais forte, sentiu o gosto do tabaco na base da língua e cuspiu. Nesse momento o vento parou. Pensou em olhar para o rio, mas teve preguiça de se virar naquela direção. O pescoço a desconfortava e já não arriscaria movimentos mais bruscos. Tragou da cigarrilha mais uma vez e repetiu a mesma operação anterior. Então, voltou aos sorrisos. Até cochilar na cadeira.

***

Sonhou com o neto que morava em Cartagena. E sonhou que, como ele, tinha 14 anos de idade. Brincavam juntos na rua que beirava o rio em frente. E olhou para sua casa, que ainda era a mesma há mais de 50 anos. Dentro da casa, o corredor estava tão escuro que bateu-lhe algum medo de avançar por ali. Ficou quieta na sala, de pé, com o sentimento da expectativa pelo eminente terror que viria dos quartos e do pátio interno. Buscou mais ar antes de se precipitar por esses lados. O ar veio quente. Desceu pelo peito como fumo. E se pôs a tossir...

***

Agora chovia fino e a velha quis entrar em casa. Estava cansada, procurou com os olhos uma das filhas: a mais velha continuava na mesma posição, mirando impassível o rio. Só deixou de encará-lo quando ouviu uns gritinhos do alto de uma das árvores. Olhou então para a mãe que suspirava baixo. Logo a mulher voltou-se novamente para o leito do rio e tentou refazer todos os seus pensamentos de antes dos gritos. A velha a seu lado voltou a cochilar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Currículum, de Mario Benedetti

El cuento es muy sencillo
usted nace
contempla atribulado
el rojo azul del cielo
el pájaro que emigra
el torpe escarabajo
que su zapato aplastará
valiente

usted sufre
reclama por comida
y por costumbre
por obligación
llora limpio de culpas
extenuado
hasta que el sueño lo descalifica

usted ama
se transfigura y ama
por una eternidad tan provisoria
que hasta el orgullo se le vuelve tierno
y el corazón profético
se convierte en escombros

usted aprende
y usa lo aprendido
para volverse lentamente sabio
para saber que al fin el mundo es esto
en su mejor momento una nostalgia
en su peor momento un desamparo
y siempre siempre
un lío

entonces
usted muere.

Mario Benedetti (1920). Próximo prójimo (1965).

quinta-feira, 5 de março de 2009

Saudade, de Patativa do Assaré (que hoje completaria 100 anos)

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.

Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré (1909-2002). Ispinho e Fulô (2001).

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Caracazo, 20 anos esta noite


Mural na Av. México, Esq. Sur 17, Caracas, Venezuela

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Canção para José Arcila em seu début

Na arena gris
da Plaza de Manizales:
Manizales, o torero;
Manizales, o país.

...e José Arcila neste onze de janeiro toma alternativa.

Manizales, o torero;
Manizales, um país.

“Manizales, Manizales!” gritam todos.
um orgulho e um sufoco.

...e lidia como sabe; lidia como quis
a mãe que guarda-lhe de novo a vida
abraçada a seu sombrero.
seu padrinho De La Puebla,
El Juli, seu testigo;
Como quisemos toda a Plaza de Toros.

...se chama José Arcila e corta duas orelhas...

Manizales, o torero;
Manizales, o país.

“Manizales!” gritamos todos;
“Manizales!” gritaria até o touro
vencido na arena gris.