segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Água

Ele não podia correr. Por dois motivos: a sola do seu tênis ameaçava cair. O pé esquerdo. E suas pernas estavam exaustas. Quase em coma. Os que vinham se assustavam com sua expressão. Os que reparavam. Muitos simplesmente caminham e pronto. A resignação não vinha. Os primeiros pingos, sim. Molhavam seu rosto. Um afago molhado e indesejado. Como o carinho que a puta não pediu.
Teve que parar. O sinal fechara e os carros jogavam água nele. Chá de cidade. Frio. Luz verde, novamente. Voltou a andar. Ele não podia correr.
Mais uns passos e estaria em casa. Era tudo simples. Mas ele sentia cada passo. Cada poça. Sua meia apitava na sola velha. Queria chegar. Depois, logo se veria.
Algumas pombas tremulas se escondiam na marquise. Elas se agrupavam. Por necessidade. Não pareciam "envolvidas" nem nada disso. Talvez um casal, mais afastado do grupo. Estavam livres da passarada. Presos um ao outro. Os pescoços retraídos entre as penas. Quando sol, todos voariam. Eles, juntos. Mais lentos.
Ele passou a banca de jornal. Mais três prédios e o 101. A calçada brilhava. Parecia mais limpa que de manhã.
A rampa de cimento da garagem. As plantas da portaria. Olhou pra cima, piscando entre as gostas. As luzes estavam apagadas. Sala, quarto, tudo. Talvez mais uma volta no quarteirão...

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Da parede do Pub de um tempo atrás

Some of my regrets:
Not kissing that lady at my best.
Not giving her the flower, or my chest.
Not showing my feelings, the fact
of being somehow a love marginal.

Not, not and not: I regret it all.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Porre (um quase-diálogo)

Um copo de espuma.
"Que merda mal tirada!"
Hiato.
Mais um... e uns.
"Por favor! O que é isso, meu amigo?"
Outros.
Negligenciado subiu na mesa.
"Ô seu filho da puta!! Tá achando que eu sou quem, cacete?!"
Um gato passa na rua.
Assustou.
Maldito cachorro depois foi lamber-lhe a cara salgada de sangue.