segunda-feira, 28 de maio de 2007

Homicídio Doloso (Constructive Manslaughter)

Ao sair da obra naquela noite, olhou para trás e pensou como tudo poderia ter sido diferente se não tivesse brigado com seu pai por causa da cabra que se perdeu lá na fazendinha da família em sua cidade Natal. Brigar com o pai foi bobagem, a culpa era dele, e por mais que ele tentasse se convencer de que não havia feito nada errado e a cerca fosse velha e o pai bebesse demais todo dia, ele sabia que tinha sido o último a entrar no curralzinho naquele fim de tarde, para catar cogumelos. Negava até a alma que catasse cogumelos toda tarde, mas o fazia. Chegou a negar a si próprio e o efeito dos cogumelos o ajudava a recriar sua memória, mas não sua consciência. Algo de sua realidade reinventada sempre quebrava em sua mente no meio de qualquer dúvida ou embate e ele era obrigado a remendá-la com negação e ignorância. E talvez essa combinação de fatores o tenha levado à situação em que está agora. Mas é mais provável que não. Ele matou seu irmão por dinheiro, e só. O fato dele desejar sua cunhada pode ter facilitado sua tomada de decisão. O fato dele a ter estuprado e matado antes de ir para a obra hoje pode ter acelerado o processo. O fato do filho do dono da empreiteira encontrar alguma graça em colocar o corpo de seu irmão, ainda que não precisasse ser seu irmão, isso foi escolha dele, em pequenos pedaços no cimento da obra e pagar para isso foi o motivo único. Não a piada em si, que não importava, mas dinheiro para erguer sua casa. E que ele tenha recebido um extra pela gargalhada que causou ao filho do dono ao contar sobre a construção de sua casinha não lhe fazia diferença.

(Satisfazendo o tradutor piadista dentro de mim antes do deadline real. Sempre o filho do dono, nunca o dono...)

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