sábado, 26 de maio de 2007

Falange

Pareciam ilhas. Eram cascas pretas. Ele tinha essas feridas nas mãos. Sua tensão aflorava em suas sobrancelhas. Nada de tiques, tremores faciais, mas algo contido, pronto para explodir por sobre seus olhos. Ele segurava a arma de maneira displiscente. Como se não acreditasse na funcionalidade daquilo. Parecia mais uma bengala.
Desde que entrara, só havia dito umas poucas palavras. "Todos quietos!", "só quero o dinheiro e pronto!". A bancária entregava as notas, com mãos trêmulas. Ele olhava-a de cima, com superioridade. Ela não passava de uma figurante sem fala no filme em que ele era roterista, diretor e ator principal.
Uma criança chorava baixinho, de fundo. Não parecia um choro sincero. Era manha. Mais tarde, naquele mesmo dia, ela ainda seria paparicada com pizzas e chocolates, entre lamentos chorosos de seus avós. "Pobre criança, tão nova e tudo isso...". Ela responderia com frases mal-criadas e mais sensação de poder.
As cascas pareciam nascidas em diferentes épocas. Umas mais tesas e desbotadas, outras em relevo, como vegetação. Uma praga que expõe sentimentos profundos. Mãos de quem cai e insiste em se levantar. Mãos de quem esbarra. Mãos de bêbado.
Sua mochila estava cheia de notas. Pedaços de papel que pesavam suas costas. Agora era ir embora. Sair. Mas não. Por um momento, um branco. Como sair? Me despeço? Me viro e pronto? Levantou a mão esquerda, por ter a direita presa à arma, e lançou um "até logo...". Ninguém respondeu, ele corou e saiu desconcertado. Nunca mais naquele banco! Tinha vergonha de reencontrar algum dos presentes. Ele poderia não mais lhe respeitar...

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