terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

K.F.C.

As mãos enrugadas pareciam vindas de outras experiências. Coisas que não podemos classificar. Elas tremiam como que buscando espantar insetos que lá não estavam. Seu rosto curvado mirava o chão à procura de pegadas de outro tempo. Inerte, ele vivia aquele momento, com presença. Talvez até maior que a dos jovens que por lá passavam.
Pescou o objeto fazendo da mão uma bola dentro do bolso. Abrindo as garras logo se viu o brilho do vidro. Surgiu a pulseira e lá estava o relógio. Ele tinha o tamanho errado para aqueles olhos cansados. Qualquer outro relógio de qualquer outra pessoa naquela sala teria pelo menos o dobro do tamanho.
Observado pelos destroços de frango que jaziam à sua frente, ele pinçou o pequenino botão. Num giro seguro, coreografou os ponteiros numa perpendicular perfeita: 9:00. Quem sabe, um compromisso perdido; uma regra cumprida à exaustão; um adeus tocante; ou a simples lembrança da hora do lanche no colégio de padres. O relógio da parede colorida da lanchonete marcava 11 e pouco. Era hora de ir pra casa. A chuva poderia voltar ainda mais forte que antes.

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