As mãos enrugadas pareciam vindas de outras experiências. Coisas que não podemos classificar. Elas tremiam como que buscando espantar insetos que lá não estavam. Seu rosto curvado mirava o chão à procura de pegadas de outro tempo. Inerte, ele vivia aquele momento, com presença. Talvez até maior que a dos jovens que por lá passavam.
Pescou o objeto fazendo da mão uma bola dentro do bolso. Abrindo as garras logo se viu o brilho do vidro. Surgiu a pulseira e lá estava o relógio. Ele tinha o tamanho errado para aqueles olhos cansados. Qualquer outro relógio de qualquer outra pessoa naquela sala teria pelo menos o dobro do tamanho.
Observado pelos destroços de frango que jaziam à sua frente, ele pinçou o pequenino botão. Num giro seguro, coreografou os ponteiros numa perpendicular perfeita: 9:00. Quem sabe, um compromisso perdido; uma regra cumprida à exaustão; um adeus tocante; ou a simples lembrança da hora do lanche no colégio de padres. O relógio da parede colorida da lanchonete marcava 11 e pouco. Era hora de ir pra casa. A chuva poderia voltar ainda mais forte que antes.
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