quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

5:30 D.M.

5:30 da manhã é uma hora excepcional.
Ainda está bem escuro, o que já justifica o excepcional.
As poucas pessoas que andam pela rua se dividem em sobreviventes da noite anterior e recém-nascidos do novo dia. Mas é uma divisão sem rivalidade. Basicamente estão todos afundados na melancolia branda da manhã fetal. Indo ao trabalho, voltando pra casa, ou vice-versa, não importa. O silêncio melancólico traz segurança mesmo na escuridão e une as pessoas em uma espécie de comunidade efêmera e eclética, de olhares vagos, mas confiados. Há um indisfarçável lirismo no ar, ainda que os rostos arriados muitas vezes não o percebam. Se levantados, veriam em sua forma mais explícita o que se compreende por profundidade. Profundidade no sentido de intensidade prospectiva...(pausa de duas horas)... como se houvesse outro sentido, babaca. O lirismo acabou, são 8:40 e tá um sol escroto. Cansado pra caralho e vergonha desse textículo metido à besta de merda. Acabou o carnaval, recomeça a vida profissional e o namoro policial. E daí? Foda-se. Amanhã vai ter cinquemeia de novo pra todo mundo se achar poetinha vagal e olhar os fodidos trabalhadores e fodidos bebuns e fodidos os dois e caprichar na liricada. Chega. Só resta a copacaverna do Fausto Fawcett nos fundos do Cervantes pra tomar mais umas ampolas até às 11 e se perguntar o que diabos aconteceu nessa noite inútil. Ou nem isso... sonhar com zumbis mesmo.

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