quarta-feira, 11 de abril de 2007

Partículas brilhantes.

Ela girava. Seu corpo suado; brilhante. A pele tinha uma cor efêmera. Talvez nunca mais aquela dosagem exata de sol. O espaço que criara à sua volta dava um ar ainda mais precioso à dançarina. Todos queriam se aproximar mas ousavam só até a fronteira de sua aura espaçosa e vibrante. Parecia um campo de força. A redoma invisível de vidro que protege a coroa brilhante da rainha que já morreu.
E ela girava. Com graça e vigor. Com sutileza e até uma certa agressividade. Um excesso de vida. Descontrole contagiante.

Ele, a contemplava de longe; hipnotizado. Mas sua sede de mais ver; mais sentir, foi levando seu corpo. Magnetizado. Ele via a morena noutra velocidade. Era como se à cada giro, sua existência ganhasse uma forte aceleração para, logo em seguida, reduzir seus movimentos à metade da velocidade presente no resto da sala. Um slow motion de cores fortes e contornos suaves.

Os cabelos pretos descortinaram seus olhos castanhos e seu corpo se conteve no olhar do rapaz que, por um mistério das relações humanas, recebeu com placidez a repentina e surpreendente troca de atenções. Ela respirava forte; seu suor em gotas pelo colo. Ele com vontade de bebê-la. "Seu nome?", ele exigiu. Os lábios brilhantes construíram um som bonito; oferecido, mas incompreensível. "Hein!?". A música voltou ensurdecedora. Ela retomou os giros e pessoas desritmadas se puseram entre os dois.

Ele tropeçou em pés desafinados até conseguir sair da pista de dança. Um bêbado se aproximou, profético, apoiando pesado em seu ombro: "Não se mata pato com dois tiros. O primeiro tem que ser certeiro, senão ele voa. E nós, infelizmente, não sabemos voar...".

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom.

edson dos anjos disse...

Realmente muito bom. Pena que só a gente lê e comenta. Depois a gente faz um livro.